sexta-feira, 28 de setembro de 2007

O impacto do livro na sociedade


Le Petit Prince, conhecido como O Pequeno Príncipe no Brasil e O Principezinho em Portugal, é um romance de Antoine de Saint-Exupéry publicado em 1943 nos Estados Unidos. A princípio, aparentando ser um livro para crianças, tem um grande teor poético e filosófico. É o livro francês mais vendido no mundo, cerca de 80 milhões de exemplares, entre 400 a 500 edições. Também se trata da segunda obra literária (sendo a primeira a Bíblia) mais traduzida no mundo, tendo sido publicado em 160 idiomas.
No Japão existe um museu para o personagem principal do livro, um jovem sonhador de cabelos louros e cachecol vermelho.
O Pequeno Príncipe atraiu para si um desprezo maciço dos intelectuais, e deles fomos informados que todas as “misses”, todas as moças (que eles gostariam de jogar numa cama) leram na vida esse único livro e choram de emoção só de enunciar o título.
Desde que foi lançado pouco antes do final da Segunda Guerra Mundial. O poder desse relativamente pequeno manuscrito é assustador: intelectuais se sentem extremamente desconfortáveis olhando para o garotinho louro cuja aparência é uma síntese de todos os símbolos “burgueses” da ternura: cachecóis, pantalonas, sapatinhos delicados, bochechas rosadas, cabelos louros levemente desarrumados; anjinho, em suma Principezinho. Todo o simbolismo do sentimentalismo explícito, as flores, as estrelas, a solidão, o vento, suspiros, a morte que rodeia em silêncio um amor puro...
O livro é uma areia movediça. A gente afunda fácil. A única alternativa para não ser absorvido é ler depressa, passando os olhos e mantendo em mente que aquilo é piegas, mas, se vacilar, se abrandar a marcha, o piegas nos pega.
O tom é pausado, grave, reflexivo. Saint-Exupéry nos deixa malucos por se mover livremente num sentimentalismo que a experiência nos diz, é paralisante. Toda breguice é ruim porque entre outras coisas, paralisa o discernimento; mas Saint-Exupéry sobrevoa seu deserto bizarro e o faz de uma altura considerável. Daí resulta uma situação meio paradoxal na leitura do Pequeno Príncipe: aquele sentimentalismo todo é quase impessoal.
Algumas cenas memoráveis (resisti à palavra “antológica” porque são passagens em que o contexto é fundamental, não podem deixar o livro, fugir da obra e respirar separadamente), como o diálogo do pequeno, sentado no alto das ruínas de um muro, no meio do deserto, com a serpente. Através do narrador ouvimos apenas as falas do menino e, juntamente com o narrador, ficamos aterrorizados ao perceber que o pequeno negociava, com uma serpente, a passagem de volta ao seu planeta longínquo, ou seja, negociava a própria morte.
E as ilustrações, as aquarelas simples (e quase simplórias) de Saint-Exupéry conseguiram cristalizar com uma propriedade rara o que o livro tem de apelo emocional.
O pequeno Príncipe deflagrou uma onda de lugares-comuns – que se tornaram comuns depois dele – sobre relacionamentos e coisas tais, mas que não são, na verdade. Há, pairando por ali, uma sabedoria real que os dissipa.
Segundo Guga Schlze sua fórmula pessoal para enfrentar o problema do Pequeno Príncipe: “me concentro no fato de que é literatura fantástica, quase uma ficção-científica, no final das contas. Um homem perdido num deserto encontra um pequeno alienígena que encarna, por um exercício misterioso de cósmica e profunda bondade, sua (desse homem) própria infância. Um homem marcado para morrer se encontra consigo mesmo, na sua pureza original, num lugar ermo da Terra. Sabemos que o lugar existe (o Saara), mas não como está no livro. Ali é um deserto visionário, o que restou dos Jardins do Éden, com suas criaturas mitológicas, a raposa, as rosas e a serpente, um poço de água fresca com balde e roldanas; um deserto transformado numa espécie de paraíso pela presença do pequeno ser que veio de outro planeta. Naquele pequeno alien o homem vê o reflexo de si mesmo – e de todos os homens que um dia foram pequenos e príncipes em seus minúsculos e breves domínios”.
As questões pertinentes a essa revelação são aquelas que estão discutidas no livro, escrito exatamente antes do fim da Segunda Guerra, quando então Antoine de Saint-Exupéry era capitão e piloto de aviões. Fazia reconhecimentos aéreos e morreu em sua última missão, em 1944, aos quarenta e quatro anos de idade, velho demais para o rock'n'roll ensurdecedor dos combates e jovem demais para morrer. Seu corpo nunca foi encontrado e eu quero crer que o livro, escrito (ou publicado) um ano antes, tenha sido uma premonição do que seriam seus últimos momentos – e quem poderia morrer de uma maneira melhor? Ele caiu, com seu avião, em algum lugar deserto e seu principezinho veio e o levou. Para ir além


http://pt.wikipedia.org/wiki/Le_Petit_Prince
http://www.digestivocultural.com/colunistas/coluna.asp?codigo=2168

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